Apesar de menos frequentes, em algumas situações crianças muito novas podem desenvolver ESCOLIOSE, o que representa um enorme desafio para o tratamento. Inicialmente, recomenda-se apenas a observação da curva, com radiografias seriadas e acompanhamento da medida do ângulo de Cobb. No entanto, ao se deparar com a PROGRESSÃO DA DEFORMIDADE, com aumento progressivo do ângulo de Cobb, se faz necessária a intervenção cirúrgica.
O problema é que a realização de uma ARTRODESE (FUSÃO) da coluna vertebral em crianças com idade precoce, especialmente antes dos 5 anos de idade, leva à restrição do seu crescimento. Sabe-se que o crescimento da coluna vertebral é bastante acelerado nos primeiros anos de vida, atingindo 2/3 do tamanho adulto até os 5 anos.
Maior problema reside ainda considerando o volume do tórax (cavidade que abriga os pulmões) e a capacidade respiratória. Apesar de o desenvolvimento pulmonar ocorrer pincipalmente nos primeiros 5 anos de vida, em que ocorre o aumento do número de unidades pulmonares, chamadas alvéolos, tal desenvolvimento avança até perto dos 8 anos de idade, principalmente pelo crescimento do volume dos alvéolos (hipertrofia). Aos 10 anos de idade, estima-se que apenas 50% do VOLUME TORÁCICO esperado na idade adulta seja obtido! A própria deformidade da coluna vertebral no segmento da coluna torácica por si só já está associado com restrição ao desenvolvimento do volume pulmonar, especialmente na ESCOLIOSE CONGÊNITA associada com mal-formações e FUSÃO DE ARCOS COSTAIS, levando a um quadro conhecido como SÍNDROME DA INSUFICIÊNCIA TORÁCICA. Uma cirurgia de artrodese (fusão) longa, estendendo-se à coluna torácica, em crianças jovens, apesar de corrigir a deformidade impediria o crescimento do volume torácico.
O tratamento da ESCOLIOSE pelo sistema de GROWING ROD está principalmente indicado na ESCOLIOSE DE INÍCIO PRECOCE, o que geralmente ocorre na ESCOLIOSE CONGÊNITA, ESCOLIOSE ASSOCIADA À SÍNDROMES GENÉTICAS ou ESCOLIOSE IDIOPÁTICA INFANTIL. Trata-se de uma técnica de cirurgia em que NÃO é realizada ARTRODESE da coluna vertebral. Essa técnica consiste na FIXAÇÃO de um ponto CRANIAL (acima) da DEFORMIDADE (curva escoliótica) e um ponto CAUDAL (abaixo) e pela passagem de hastes (barras) dos dois lados da coluna, sendo que de cada lado duas hastes são conectadas entre si através de um dispositivo que permite o deslizamento de uma haste sobre a outra (vide imagens abaixo). Com o deslizamento das hastes entre si, o sistema GROWING ROD permite CRESCIMENTO da COLUNA VERTEBRAL progressivo pelo tempo desejado, até que o paciente atinja idade ideal para a CIRURGIA DEFINITIVA de ARTRODESE (FUSÃO) da COLUNA VERTEBRAL. Tal crescimento, principalmente ao nível da coluna torácica, otimizaria o desenvolvimento do VOLUME TORÁCICO mais próximo do adequado e, assim, MELHOR DESENVOLVIMENTO PULMONAR e da FUNÇÃO RESPIRATÓRIA.
Como dito acima, o comprometimento da FUNÇÃO RESPIRATÓRIA ocorre principalmente na ESCOLIOSE CONGÊNITA quando esta se associa com MAL FORMAÇÕES dos ARCOS COSTAIS, fundidos. Esse cenário costuma levar a importante REDUÇÃO do VOLUME TORÁCICO, que consequentemente leva à restrição do crescimento do tecido pulmonar. Foi frente a esse cenário que o finado Dr. Robert Campbell descreveu o termo SÍNDROME DA INSUFICIÊNCIA TORÁCICA. Para esses casos, Dr. Campbell desenvolveu a técnica de TORACOPLASTIA EXPANSIVA, em que a liberação da fusão dos arcos costais se seguia à implantação de um sistema GROWING ROD específico para a EXPANSÃO TORÁCICA, em que se fixava pontos da costela acima da liberação dos arcos costais (CRANIAL) e pontos da costela abaixo (CAUDAL), com a colocação de ganchos e se conectava esses ganchos com uma haste expansiva (imagem abaixo) que permitia o crescimento progressivo do volume torácico e, assim, criando mais espaço para o crescimento do tecido pulmonar. Esse sistema ficou conhecido como VEPTR (Vertical Expandable Prosthetic Titanium Rib).
Na grande maioria das vezes, os sistemas GROWING ROD disponíveis necessitam de um procedimento cirúrgico inicial, para a montagem do sistema, seguido por cirurgias sucessivas, geralmente a cada 4 ou 6 meses, para realizar a DISTRAÇÃO entre as hastes, ou seja, fazer com que uma haste deslize sobre a outra, permitindo o CRESCIMENTO PROGRESSIVO da COLUNA VERTEBRAL. Essas cirurgias sucessivas para DISTRAÇÃO, apesar de necessitarem anestesia geral, são procedimentos simples, com pequenas incisões (abertura da pele) na altura dos dispositivos que conectam as hastes de cada lado da coluna. No geral, cada incisão mede cerca de 5 cm. Os pacientes costumam receber alta hospitalar para casa no dia seguinte ao procedimento de DISTRAÇÃO.
Um sistema de GROWING ROD mais recente dispensa a necessidade dessas cirurgias sucessivas… trata-se de um sistema de hastes que permitem a DISTRAÇÃO através de um dispositivo MAGNÉTICO. Mas vamos deixar esse assunto para outro dia.
REFERÊNCIAS:
1. Winter RB, Moe JH. The results of spinal arthrodesis for congenital spinal deformity in patients younger than five years old. J Bone Joint Surg Am. 1982;64:419-432.
2. Moe JH, Kharrat K, Winter RB, et al. Harrington instrumentation without fusion plus external orthotic support for the treatment of difficult curvature problems in young children. Clin Orthop Relat Res. 1984: 35-45.
3. Akbarnia BA, Marks DS, Boachie-Adjei O, et al. Dual growing rod technique for the treatment of progressive early-onset scoliosis: a multicenter study. Spine. 2005;30:S46-57.
4. Campbell RM Jr, Smith MD, Mayes TC, et al. The characteristics of thoracic insufficiency syndrome associated with fused ribs and congenital scoliosis. J Bone Joint Surg Am. 2003;85-A:399-408.
5. Campbell RM Jr, Smith MD, Mayes TC, et al. The effect of opening wedge thoracostomy on thoracic insufficiency syndrome associated with fused ribs and congenital scoliosis. J Bone Joint Surg Am. 2004;86-A:1659-74.
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