CIFOPLASTIA

A CIFOPLASTIA é um procedimento que se destina ao tratamento de fraturas estáveis da coluna vertebral. Sua principal aplicação se dá em casos de fratura que ocorrem em ossos fragilizados por osteoporose ou lesões tumorais (metástases). O procedimento é bastante eficaz no controle da DOR causada por essas fraturas, sendo que muitas vezes os pacientes apresentam DOR muito intensa, que não melhoram com outras medidas analgésicas, como medicação (incluindo morfina e seus derivados) e fisioterapia. Não é raro que pela dor, os pacientes, principalmente aqueles mais idosos, podem desenvolver importante LIMITAÇÃO FUNCIONAL.

O procedimento consiste na introdução de Polimetilmetacrilato (PMMA), também conhecido com “CIMENTO ORTOPÉDICO” no interior da vértebra acometida, após ter sido criado uma cavidade que receberá o “CIMENTO”, com a vantagem desse ser introduzido sem necessidade de pressão, o que poderia provocar seu extravasamento. O preenchimento da vértebra pelo PMMA promove a rigidez no local da fratura, ou da lesão metastática, associando-se à melhora da DOR. Na maioria dos casos, essa melhora da dor é imediata!

A. Modelo de fratura com colapso vertebral; B. Balão da CIFOPLASTIA inflado dentro do corpo vertebral; C. Cavidade intra-vertebral resultante da desinsuflação do balão da CIFOPLASTIA; D. Preenchimento da cavidade intra-vertebral com PMMA (“CIMENTO ORTOPÉDICO”).

Outra vantagem é que se trata de um procedimento minimamente invasivo, realizado de maneira percutânea, ou seja, sem necessidade de grandes incisões (cortes). Apenas duas pequenas incisões, de cerca de 2-3 cm cada, são necessárias, uma de cada lado da coluna. São introduzidas duas cânulas na vértebra, o que é possível pela visualização da coluna vertebral e dos instrumentos por uma aparelho intensificador de imagem conhecido como ESCOPIA. Além disso, na grande maioria das vezes, o procedimento pode ser feito sem anestesia geral, sendo feita apenas uma SEDAÇÃO (como se faz durante uma endoscopia) e ANESTESIA LOCAL. Nesses, casos, o paciente recebe alta e vai para sua casa no mesmo dia do procedimento.

Imagem 1. Radiografia de uma fratura por insuficiência da vértebra T12; Imagem 2. Imagem de Ressonância Magnética da mesma fratura, com hipersinal na ponderação T2 (SETA), o que denota edema sugestivo de fratura ainda não cicatrizada, melhor indicação para a técnica de CIFOPLASTIA; Imagem 3. Radiografia mostrando o resultado da CIFOPLASTIA, com a presença do PMMA, na fratura da vértebra de T12.

A CIFOPLASTIA é uma alternativa para outro procedimento similar, muito realizado no passado, conhecido como VERTEBROPLASTIA. Essa, por outro lado, caiu em desuso e inclusive teve sua eficácia clínica questionável conforme artigo científico publicado no periódico New England Journal of Medicine, provavelmente o mais respeitado da área médica [1]. Conforme o estudo duplo cego e randomizado conduzido em diversos serviços de saúde, não houve diferença significante no controle da dor e nem na melhora da qualidade de vida comparando-se pacientes submetidos a vertebroplastia e pacientes submetidos à cirurgia placebo. Além disso, dependendo do volume de PMMA introduzido, o risco de extravasamento para o interior do canal vertebral deve ser considerado, podendo levar a um comprometimento neurológico e mesmo paraplegia, pois o PMMA é inserido no interior da vértebra com elevada pressão o que aumenta o risco de extravasamento. Há inclusive relato na literatura de embolização do PMMA para locais distantes, como o pulmão [2].

A cifoplastia, por outro lado, tem eficácia e segurança muito superior, conforme visto na prática clínica e em artigos científicos. Um artigo publicado no periódico Lancet, outro dos mais respeitados na área médica, mostra um estudo randomizado e internacional incluindo 8 diferentes países em que a melhora clínica e da qualidade de vida foi muito superior considerando pacientes submetidos ao procedimento de cifoplastia comparado com pacientes não submetidos a cirurgia, além de o tempo de restrição física ser muito menor e com apenas um caso de complicação neurológica associada ao procedimento, de um total de 300 realizados [3].

Outro estudo muito interessante avaliou todos os procedimentos de vertebroplastia e cifoplastia realizados nos Estados Unidos entre 2005 e 2010, sendo considerados 307.050 procedimentos, sendo que a quantidade de cifoplastias foi três vezes superior à quantidade de vertebroplastias [4].

Recentemente, uma outra opção para o tratamento dessas fraturas, com as mesmas indicações (fratura por osteoporose ou lesões tumorais metastáticas), é o Spine Jack®, que consiste em um implante que se expande no interior da vértebra, similar a um “macaco de elevação do automóvel para troca de pneu”, com controle desse processo por visualização radiográfica (escopia). Essa expansão permite restaurar a altura da vértebra que colapsou com a fratura e também cria uma cavidade no interior do corpo vertebral, sendo essa cavidade preenchida pelo PMMA, introduzido sem necessidade de pressão, o que diminui imensamente o risco de extravasamento do PMMA, além de permitir um volume muito maior. Um estudo recente publicado mostrou superioridade desse novo dispositivo considerando o potencial de restaurar a altura do corpo vertebral, assim como a manutenção dessa restauração, comparado com a técnica convencional de cifoplastia com balão [5].

A. Modelo de fratura com colapso vertebral; B. Introdução percutânea do implante Spine Jack® no interior do corpo vertebral; C. Expansão do implante, similar a um “macaco para elevação de automóveis para troca de pneu”, mostrando a capacidade para correção do colapso vertebral; D. Introdução do PMMA na cavidade criada pela expansão do implante.

Relato do Dr. Raphael Pratali, que tem grande experiência com a técnica de CIFOPLASTIA: “uma das cirurgias que mais traz satisfação, considerando a coluna vertebral, é a cifoplastia. É incrível a capacidade que essa técnica tem em melhorar a qualidade de vida das pessoas, com dor intensa causada pela fratura, seja por osteoporose seja por tumor. Sem contar, que se trata de um procedimento simples e que o paciente vai pra casa no mesmo dia”.

Imagens de Tomografia Computadorizada e Ressonância Magnética mostrando lesões metastáticas na coluna vertebral, com fratura e colapso nas vértebras T10 e L1.
Imagens da ESCOPIA durante um procedimento de Spine Jack® , com a inserção percutânea do implante nas vértebras acometidas (T10 e L1).
Imagem da ESCOPIA com o resultado final do procedimento, com a colocação do PMMA no interior dos corpos vertebrais.

Um importante alerta é que NEM TODAS AS FRATURAS são boas indicações para a CIFOPLASTIA!! Casos de FRATURAS INSTÁVEIS, normalmente associadas à trauma de alta energia (acidentes de automóveis e motocicletas, quedas de grandes alturas) não se beneficiam com essa técnica. Para isso, é muito importante a avaliação correta dos exames de imagem, preferencialmente uma RESSONÂNCIA MAGNÉTICA, que mostraria lesão dos ligamentos no caso dessas fraturas instáveis.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

1. Kallmes DF, Comstock BA, Heagerty PJ, et al. A Randomized Controlled Trial of Vertebroplasty for Osteoporotic Spine Fractures. N Engl J Med. 2009;361(6):569–579.

2. Rothermich MA, Buchowsky JM, Bumpass DB, Patterson GA. Pulmonary cement embolization after vertebroplasty requiring pulmonary wedge resection. Clin Orthop Relat Res. 2014;472:1652–1657.

3. Wardlaw D, Cummings SR, Meirhaeghe JV, et al. Efficacy and safety of balloon kyphoplasty compared with  non-surgical care for vertebral compression fracture (FREE): a randomised controlled trial. Lancet. 2009;373:1016–1024.

4. Goz V, Errico TJ, Weinreb JH, et al. Vertebroplasty and kyphoplasty: national outcomes and trends in utilization from 2005 through 2010. Spine J. 2015;15(5):959-965.

5. Noriega DC, Ramajo RH, Lite IS, et al. Safety and clinical performance of kyphoplasty and SpineJack® procedures in the treatment of osteoporotic vertebral compression fractures: a pilot, monocentric, investigator-initiated study.  Osteoporos Int. 2016;27:2047–2055.

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