DOR MIOFASCIAL

Cada vez mais nós compreendemos que a principal causa da DOR NAS COSTAS consiste muito mais em um problema funcional que um problema estrutural. A principal manifestação desse quadro é conhecido como DOR MIOFASCIAL e ocorre graças a um desequilíbrio por parte da sustentação muscular ao redor da coluna vertebral.

Fazendo uma analogia, quando se está fazendo um trabalho no computador e ele “trava”, é muito mais provável que o problema seja porque você está com muitos arquivos abertos ao mesmo tempo, com o computador ligado há algum tempo, e não que ele tenha quebrado. Nesse caso, ao invés de precisar consertar o computador, basta fechar os arquivos que não estão sendo usados, ou mesmo desligar o computador por um curto período, que tudo volta a funcionar muito bem.

A DOR MIOFASCIAL está associada com inúmeras causas:

Desequilíbrio muscular, quando a intensidade da atividade de demanda sobre a musculatura que sustenta a coluna vertebral supera a qualidade do condicionamento muscular.

Deficiência do reparo muscular – quando a musculatura não consegue repousar adequadamente, o que está bastante relacionado com a má qualidade do sono, ou seja sono não-reparador (quando já se acorda cansado).

Diversas alterações no metabolismo, desde doenças endócrinas (diabetes, resistência à insulina, hipotireoidismo, etc.), dislipidemia (alteração na concentração de colesterol) e mesmo deficiência de vitaminas (principalmente vitamina D).

Também devemos destacar que problemas emocionais, como ansiedade ou depressão, também estão associados com piora da dor nas costas. Esses problemas emocionais não estão relacionados diretamente com a causa da dor, mas eles podem levar a uma alteração no limiar para dor que é percebida pelo cérebro. Assim, a intensidade e a frequência com que a pessoa sente dor aumenta.

Lembrando que dor é uma sensação que é percebida pelo cérebro como resposta à determinado estímulo. Tal resposta varia muito de pessoa a pessoa e também pode variar para a mesma pessoa em diferentes momentos.

Nesse caso, pense na dor como se fosse a sensação de calor/frio. Em uma sala de cinema com a mesma temperatura, medida no termômetro (por exemplo, 24° Celsius) com cem pessoas, a maioria vai estar confortável enquanto algumas vão estar sentindo frio e outras calor.

Devido à complexidade da natureza dessa dor nas costas funcional, seu tratamento é igualmente complexo. Tudo se inicia com uma avaliação meticulosa sobre a manifestação da dor, para fazer o diagnóstico correto.

É preciso entender as características da dor, sua frequência, distribuição pelo corpo, o que mais ocorre junto à dor. Buscar algum dos fatores descritos acima que poderia causar ou facilitar a dor, como sono de má qualidade, presença de alguma doença associada, alterações no humor ou ansiedade. Ao exame, pode-se perceber que muitas vezes ao se testar a coluna em si, a dor não se reproduz, mas ao testar a musculatura se consegue reproduzir a dor, além de ser possível a detecção de encurtamentos de cadeias musculares. Outra característica marcante da dor de etiologia miofascial é a presença de PONTOS GATILHO doloridos, que consistem em pontos que se parecem com “caroços” dentro do ventre dos músculos e ao tocá-los se desencadeia dor de forte intensidade tanto no local, quanto dor irradiada para outras localizações.

É preciso uma investigação abrangente de todo estado metabólico, com exames laboratoriais completos. No caso da detecção de algum distúrbio metabólico ou doença endocrinológica devem ser adequadamente tratados.

Exames de imagem, como ressonância magnética, só ajudam para descartar problemas mais graves, acometendo a coluna ou outras articulações. Uma das tarefas mais importantes, e difíceis, é saber interpretar esses exames. É sabido que uma grande quantidade de pessoas apresentam alterações nos exames de ressonância magnética, na maioria das vezes representando meras alterações degenerativas, sem nenhuma correlação com sintomas de dor nas costas. Sendo assim, isso pode ser um fator de confusão naqueles que têm todos os componentes de dor miofascial, mas apresentam pequenas alterações nos exames, como um pequena protrusão de um disco intervertebral. Isso exige uma avaliação meticulosa e precisa para confirmar ou descartar quanto da dor está associada a esse achado no exame.

Exame de Ressonância Magnética com discopatia e protrusão no disco intervertebral da coluna lombar

A principal modalidade de tratamento da dor miofascial é a FISIOTERAPIA. Importante lembrar que fisioterapia não é sempre igual. Não é porque você “fez fisioterapia no passado e não adiantou” que ela não serve para você. É fundamental que o fisioterapeuta saiba reconhecer qual fase do tratamento se faz necessário, se analgesia ou reabilitação, além de dispor do conhecimento de variados recursos técnicos. Na fase de analgesia, quando a intensidade da dor é maior e ela é constante, pode-se lançar mão de eletroterapia, com uso de aparelhos para amenizar a dor (eletro-analgesia e/ou técnicas de calor), ou também recursos manuais para inativação dos pontos de dor. Muitas pessoas, no entanto, que se encontram nessa fase de dor mais aguda sofrem da chamada cinesiofobia, que consiste no “medo” ou receio de que a manipulação do seu corpo irá piorar sua dor. Entretanto, assim que a intensa da dor aliviar, tão ou mais importante é iniciar a REABILITAÇÃO, com fortalecimento da cadeia muscular que sustenta a coluna vertebral, conhecida como CORE, além do alongamento adequado de toda cadeia muscular acessória. Os músculos do CORE trabalham muitas horas por dia na sua função de sustentar a coluna alinhada e em pé, através de uma contração suave, muitas vezes imperceptível para nós, e contínua. Sendo assim, é preciso fortalecer essa musculatura e existem exercícios específicos que são superiores para isso, como exercícios isométricos, em que se deve sustentar a contração forçada desses músculos por um determinado tempo até ativar sua capacidade de tônus.

Diferentes abordagens medicamentosas podem ajudar no tratamento da dor miofascial. Em momentos de dor intensa e constante, pode-se empregar relaxantes musculares e analgésicos, desde os mais simples como Paracetamol, Dipirona ou Ibuprofeno, até os mais fortes, como a Codeína ou Tramadol. É muito importante planejar o uso dessas medicações por curtos períodos, associando com a fisioterapia ou acupuntura. A acupuntura é uma modalidade que tem eficácia comprovada no controle da dor mais intensa e também faz com que menor quantidade de medicação seja necessária. No caso de distúrbios do sono, é possível o emprego de medicações para melhorar a qualidade do sono.

No caso de dor crônica, existe benefício com o uso de outras classes de drogas, basicamente de duas classes – anticonvulsivantes, com destaque para a pregabalina, ou antidepressivos. Essas duas drogas não têm a intenção de atuar como seu papel principal, ou seja tratar “depressão” ou “convulsão”, mas sim têm ação central no cérebro atuando sobre o limiar da dor. A longo prazo, são muito eficazes e conseguem reduzir a necessidade de medicamentos analgésicos mais potentes.

Pequenas intervenções também podem auxiliar no controle da dor. Trata-se de agulhamentos dos pontos gatilho, com ou sem injeção de lidocaína. O procedimento é extremamente simples, feito no próprio consultório, e tem a intenção de inativar esses pontos de tensão miofascial, o que acaba sendo extremamente útil para que o paciente consiga tolerar melhor a reabilitação física, tornando-a mais eficaz.

Em resumo, é de extrema importância que se saiba e se conheça essa possibilidade para dores músculo-esqueléticas. O reconhecimento é a parte mais importante para se iniciar o tratamento, que pode exigir diferentes abordagens, infelizmente em um jogo de tentativa e erros até se conseguir o efetivo controle da dor.

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